terça-feira, 30 de setembro de 2008

Bárbara

Bárbara quer os detalhes que ninguém vê. Quer sair do metrô exatamente quando vier aquele vento que entrelaça o cabelo, quando a nuvem que cobre o sol escorrega um pouco pra esquerda, e o seu ipod começa a tocar aquela música perfeita pra começar um dia, daquelas que dá vontade de sorrir e dançar.

Bárbara quer o mínimo que faz toda a diferença. Conversar com seu namorado sobre qualquer trivialidade e que ele não preste atenção em nada, a não ser nos seus lábios mexendo e nesse momento pense o quanto ela é bonita quando não se importa com sua aparência.

Bárbara gosta de quem sorri para um estranho na rua, olha um casal e pensa como eles parecem combinar tão bem. Ela desacelera quando se depara com um velhinho, porque sabe que pra ele o tempo passa em outro ritmo. Por que correr para chegar ao trabalho? Por que correr pra chegar na aula? Pra que correr se não for num parque colorido só de tons verdes ao som dos latidos de cachorros e risadas de crianças?

Bárbara consegue achar bonitas as variações de cinza que quase cobrem o céu. Consegue até não se irritar com o Banco, se o dia estiver iluminado. Sabe que amanhã pode ser um dia mais difícil que hoje, que pode ser muito cansativo e que mesmo ela sendo tão nova, pode sentir dores nos joelhos de tanto ficar sentada em frente de um computador.

Bárbara sente que se tudo pode piorar, também pode melhorar muito. Que se existem surpresas ruins, também existem as boas. Que o fim de semana passa muito rápido, mas sentir o tempo passando assim é sinal de que se está vivendo-o em toda sua intensidade. Bárbara só quer saber mesmo é de viver.

[Às minhas amigas. Nesse texto tem um pouco de cada uma de vocês]

domingo, 28 de setembro de 2008

Lugares-comuns mais que comuns:

- Artista plástico que odeia TV.
- Pedagogos que querem quebrar paradigmas.
- Caras bombados que usam correntes de prata = coleiras de cachorro.
- Rainha de bateria que namora pagodeiro.
- Apresentador de programa dominical ser chato-insuportável.
- Ter crianças no ônibus falando sem parar sempre que você tá morrendo de dor de cabeça.
- Publicitários moderninhos que só vão a lugares moderninhos.
- Publicitários (as) que querem engraçados em seus blogs. (hú)

domingo, 21 de setembro de 2008

Não ao adeus

Foi uma surpresa. Como não percebi isso vindo na minha direção? Onde eu estava que surda e cega ignorei esse silêncio que abriu um buraco imenso entre nós? Não posso ouvir a palavra “acabou”. Não posso ouvir as palavras “nunca mais”. Não foi isso que combinamos. O trato era ser pra sempre, até morrer, até depois que morrer. Dá vontade de te bater, de me bater, de quebrar tudo. Nunca fui dessas de explodir, mas agora tenho um bom motivo pra derrubar a casa inteira, pra derrubar todas as casas da nossa rua. Eu quero falar e te convencer a ficar. Penso até em implorar, porque não conheço a palavra humilhação quando se trata de fazer você não sair pela porta. Penso em apelar pras boas lembranças, aos momentos sozinhos, viagens a dois e as piadas que só nós entendemos. Olha em volta: é o nosso mundo. Você vai deixar isso pra trás e se lançar naquele espaço lá fora? Não é seguro. Fica. Aqui você tem em cada canto um pedaço de uma vida. Em todos os detalhes somos nós. Se não está do jeito que a gente quis, foi do jeito que a gente conseguiu. Eu mudo se tiver que mudar. Ou posso continuar a mesma. Posso ficar loira, ou ruiva ou nipônica se você preferir. Eu vou emagrecer aqueles quatro quilos pra ficar mais bonita. Vou me interessar por fórmula 1 e aprender a fazer comida árabe. Vou ser tudo o que não fui e juro que não reclamo da sua mania de deixar tudo jogado pela casa. Pensa mais. E fica mais. Não me fala que o problema é você. Tudo em você é perfeito. Inclusive seus defeitos. Já tá na hora de acabar com essa brincadeira de mau gosto. Já percebi o quanto te amo e já podemos fazer as pazes. Não me sufoca mais com esse olhar de adeus e começa a rir da minha ingenuidade, de eu ter acreditado nesse seu falso discurso. E se isso tudo não for suficiente me fala o que você quer, que eu faço, peço, rezo, invoco, transformo e te seguro, mais um pouco aqui dentro, nesse nosso mundo.

terça-feira, 16 de setembro de 2008

A criatividade da comunicação 'amadora' II

Hoje vi uma placa incrível bem perto de onde trabalho:
Copiadora x (é x mesmo)
"As idéias originais nascem aqui."

Me pergunto: Como numa copiadora se cria algo original?!

O Pequeno Príncipe perdido no (Miss) universo

Nutri desde cedo um preconceito com o Pequeno príncipe. Ele me parecia um lorinho bobo, fora da minha realidade, metrosexual demais (numa época em que isso nem existia). Mas principalmente não gostava dele porque era o livro mais citado entre os concursos de Miss.

Também tinha (e confesso que tenho ainda) preconceito com esses concursos. Pelo simples fato de serem superficiais, não terem a mínima relevância pra vida de ninguém, a não ser pra vida das mocinhas que dele participam (se bem que até disso eu chego a duvidar). Mas entendo que concursos fazem parte dessa mania dos homens de escolher sempre os melhores, mais fortes, mais bonitos, os mais inteligentes, fazer rankings e listas de tudo.

E por tudo isso nunca li o livro. Na verdade até o ano passado, quando trabalhei numa livraria e resolvi que era hora de encarar o livro preferido das Misses. E que surpresa: Grande livro. Imenso. De significado, de beleza, de ensinamento.

Por que ele é tão citado por ‘moças ocas’ então? Elas entenderam esse livro tão cheio de metáforas e entrelinhas? Conseguiram tirar dele todo o seu real conteúdo? Subestimei as moças-sempre-sorridentes só por se colocarem numa avaliação puramente estética, ou elas é que gostam dele só por ser lorinho, bobinho perdidinho no universo?

Não tenho a resposta. Não espero ter. Com essa história só aprendi que nem todas essas garotas lindas são ‘farinha do mesmo saco’, nem todos os livros devem ser julgados pela capa e que todo o príncipe deve ser meio estranho mesmo (!).

domingo, 14 de setembro de 2008

A criatividade da comunicação ‘amadora’

Uma das melhores coisas para se ver numa cidade são os nomes de lojas e seus respectivos logos. Dos melhores aos mais toscos (principalmente esses).

Nas minhas viagens já vi coisas memoráveis, até anotava num caderno pra não esquecer de contar a história depois. Perdi o caderno, mas alguma coisa ficou na memória. Em Fortaleza me deparei, em uma única avenida, com pérolas de criatividade como a Funerária Opção e Madeireira Casa dos tijolos. A poucos dias vi o nome de um posto de gasolina no mínimo curioso: Posto Algo mais. A primeira coisa que pensei foi que o algo mais era a gasolina adulterada.


Essa semana enquanto brigava com sono pra conseguir atravessar a rua, e seguir pra mais um dia de trabalho, li a placa: Lava rápido: ducha com neve e cera. Neve? Nossa, eu nunca vi neve e nem sabia que tinha do lado da minha casa!

O mais singelo nome que já vi foi de um boteco (é mais uma birosca, como falamos em Belém) no fim da favela Heliópolis, num pedaço de madeira usado como placa, escrito com um giz azul: Cantinho da cirrose. Que meigo! É uma paixão tão grande pela birita, que até reserva um cantinho especial pra cirrose! Impagável. O nome de “bar” mais engraçado que já vi na vida.

Nada como esbarrar com a criatividade e humor (pra não dizer falta de noção) dos comerciantes. Às vezes erram, às vezes acertam. O que não deixam de fazer é alegrar os dias de quem enxerga esses ‘detalhes’ preciosos em meio ao caos das cidades.

sábado, 13 de setembro de 2008

11/09 e a imagem do novo século

O onze de setembro passou, e eu passei alheia a ele. Só me toquei dois dias depois, porque li as pessoas relembrando e comentando de tudo um pouco. Os fatos (e fotos) falam por si? As imagens são impressionantes, das mais marcantes (se não a mais) do século passado. Quais serão as imagens mais incríveis teremos deste século que está quase completando a primeira década? Alguém se habilita a imaginar-prever-chutar?

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Um rebanho burro (ou surdo)

Um dos lugares onde me sinto mais animal (não como a expressão para ‘bacana’ da década de 90) é o metrô. Tanta gente com pressa tendo que:
-Fazer fila pra escada rolante;
-Ficar parado atrás da fixa amarela, e bem em frente onde a porta do metrô pàra;
- Não entrar nem sair após o sinal;
- Carregar a mochila na frente do corpo;
- Ir para o corredor;
- Não impedir a entrada e saída dos usuários;
- Não sentar nos bancos de cor cinza;
- Abaixar o som do mp3.
São tantos outros comandos que como o gado confinado, ou uma turma de pré-escola, tenta caminhar numa organização a-normal. O mais incrível é que ninguém colabora com as “instruções” ditas por vozes autoritárias. O rebanho paulistano é burro ou surdo? Ou gosta mesmo é de transgredir?
Animal que é animal não obedece ninguém. É assim com o meu boxer, é assim com o povo do metrô. Gente que trabalha muito bem arrumada, na Paulista (ui) mas vira bicho quando chega o fim do dia.

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Coisas idiotas que eu (e você) já tive(mos) vontade de fazer:

- Pular no trilho do metrô.
- Pular do último andar do prédio.
- Se jogar do barco em movimento no meio do rio.
- Derrubar uma bandeja cheia de copos e/ou pratos.
- Jogar um copo de whisque na cara de alguém (como nos filmes).
- Ir num show do Asa de águia (essa é sacanagem, e seria pior de todas).

Obs> Não, eu não sou suicida, sou apenas curiosa.

Neste muro o que procuro?

A liberdade de expressão é tão forte que quando essa vontade de falar vem, parece impossível, pelo menos pra quem é impulsivo, falar tudo o que vem à cabeça.

Isso acontece com o Presidente, que fala sem discurso pré-estabelecido (daí sai um monte de bobagem), dos programas ao vivo (onde invariavelmente escapa um erro, uma tosse, um silêncio vergonhoso), ou até aqueles que com um spray na mão, tendo o muro como papel e a cidade como leitora, se expressam sem medo.

Um desses rasgos de expressão está em um muro da cidade pelo qual passo todo dia. E ainda acho engraçado como o autor da “obra” teve a capacidade de revelar seu ódio e amor, assim, um logo após o outro. Será que é porque, como dizem, amor e ódio estão mesmo bem próximos?

Em baixo de um viaduto, sob a luz laranja-vitamina c-pálida do fim de tarde, estão os dizeres: “Kassab vai se fuder!” seguida de “Ká te amo”.

É estranho achar isso estranho? Será que quando ele se viu com a arma da palavra queria reclamar do governo e aproveitou pra se declarar a namorada? Ou era um romântico underground que aproveitou a declaração de amor para também declarar seu descontentamento político?

Eu já analisei as letras nos rápidos momentos em que o ônibus passa pelo tal muro. São da mesma pessoa. O “K” é revelador, não deixa dúvidas: é o mesmo autor.

Esteticamente é feio. Mas se olhado por outro ângulo o muro é só mais uma faceta de São Paulo. Uma cidade que não deu papel e caneta pra que ele não precisasse pegar num spray. Ou, é uma cidade tão opressora que “desvirtua” quem teve muito papel e caneta, mas preferiu um muro pra gritar que existe. Uma cidade cujo muro não espera resposta, limpeza, sentido.

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

7 segredos que um “Cult” tem, mas não fala pra ninguém:

- Diz que adora a Piauí, mas não lê porque acha as reportagens muito longas.
- ‘Se joga’ quando toca um funk numa festa de formatura (e sabe toda a letra).
- Fala de Godard e Truffaut, mas não tem a mínima idéia do que é Nouvelle vague.
- Não tem nenhum problema na visão, mas usa óculos com aquela armação preta.
- Sabe pelo menos 3 letras de qualquer música da Ivete Sangalo.
- Tem fotolog secreto com fotinhas com seus miguxos preferidos.
- Disse que queria ir ao show do João Gilberto, mas vai mesmo é pro show da Madonna.

Frases inteligentíssimas que ouvi numa só viagem de ônibus (rs)

Em mais um fim de tarde a bordo da linha 494:

- “Você é viado seu gay”
- “Ai amiga não compra xampu com sódio porque tem química”
- “Eu até podia fazer faculdade, mas tem que ir pra aula todo dia...”
- “Eu já fui bailarina de axé, forró...”
- “Andar de carro é diferente de andar de Ônibus”

sábado, 6 de setembro de 2008

Guia de viagem

Viajar de carro só é bom se você fizer uma lista importantíssima antes de embarcar. Eis um pequeno guia, que eu não segui, quando fiz minha última viagem pro Rio:

- Música
Não dá pra ficar horas num carro se o dono dele tem gosto sonoro duvidoso. Já pensou agüentar Chiclete com banana, Nxzero ou Inimigos do hp durante 5 horas?

-Cantores amadores
Geralmente vem num combo com o item acima. São dois metros quadrados divididos com quatro pessoas e sempre tem aquele cara que acha que tá num caraokê, ou pior, acha que ta dando um show no Rock in`Rio. Obrigar os outros a ouvir o que só os azulejos do banheiro ouvem é dose.

- O motorista
Um cara que dirige muito devagar irrita todo mundo, mas um cara que corre demais deixa os passageiros tensos, pelo menos eu, que tenho uma certa neura com acidentes de trânsito (talvez por já ter sofrido uns três).

- Xixi
Pessoas com bexiga fraca, ou seja lá qual for o problema, que tem que parar pra fazer xixi a cada meia hora, e a cada parada compram mais garrafinhas d´água pra beber na viagem. Parece provocação!

- Empolgados
Eles estão felizes, o que é ótimo, e nos primeiros dez minutos são a melhor companhia do mundo, mas imagina mais de uma hora ao lado de um cara que fala “uhu!!!!!! Vamo bombar galera, quero ver todo mundo muito louco no litoral, uhu!!!!” a cada 5 minutos?

Fuga do amor romântico

Não quero um amor romântico
Tão pouco semântico
Quero se seja sempre no agora
E renovado a cada instante

Pode dar voltas
Só se for pra saber que quer voltar
Pode ser muitos
Sempre o mesmo e sem parar

Não me explique
Não me entenda
Fale até cansar
E só diga a verdade quando eu perguntar

Repita todo dia
Tudo o que não espero ouvir
Surpreenda sendo outro
E não me deixe dormir

Diga a primeira palavra da manhã
E todas as outras também
Fuja sem dizer nada
Me controle, me solte, me queira bem

Encontro de contrários

Seus cabelos pretos e cumpridos se confundiam com a cor de seus olhos. A pele branca sem nenhuma marca revelava que ela não tinha mais que 17 anos. Os cabelos estilo exército e o olhar sério eram um recurso falho de parecer mais velho. E numa parada de ônibus começou. Em três meses já sabiam os movimentos um do outro. A mania de esticar os pés e pintar as unhas de cor escura. O vício de roer as unhas na mesa de jantar e ter sempre a última palavra. Duas personalidades fortes. E mais três meses as brigas continuavam acabando em risadas. Como era ótimo saber que suas opiniões opostas não eram empecilho pra colocarem gargalhadas um no rosto do outro. Por que o tempo passa e eles mudam tanto? E ainda assim os olhares se decifram em instantes. As palavras continuam revelando algo novo. Uma historia que não tinha ouvido, e mais uma opinião contrária. Tem sempre um que se entrega mais? Um que gosta mais? E medir isso importa?

Todo carnaval tem seu fim

Não dá pra morar nesse país sem ter que lidar com o carnaval. Aquele da Bahia, de um monte de gente imprensada, ouvindo música ruim e pagando caro por isso já deu pra ver que não gosto. O carioca é mais minha praia, samba-enredo e aquela bateria alucinante.

Quando era mais nova queria ser rainha de bateria, que fique claro, porque acho que é o melhor lugar pra sair na avenida e não por querer exibir dotes físicos que não tenho. No ano passado fui ela primeira vez ver os desfiles no sambódromo de São Paulo. Adorei. É muito melhor do que ver na tv. Os detalhes, as cores e a animação são muito mais contagiantes ao vivo. Esse ano fui de novo. Dancei, cantei e aproveitei pra prestar mais atenção aos detalhes que fazem desses eventos experiências únicas.

Então aqui vai a história do Roberto. Um componente da bateria da x-9 paulistana. O desfile da escola tinha acabado, e ele fantasiado foi ao encontro da mulher que gritava por ele da arquibancada:

- Roberto, vem cá.
- To indo.
- Roberto, não vai pro bar tá me ouvindo?
- Eu vou sim.
- Roberto você não vai!
- É carnaval amor.

Eu ouvia os dois gritando um com o outro e pensando: Como uma mulher consegue levar a sério um cara vestido de pingüim? Proibir um animal gigante de espuma de fazer o óbvio: Se juntar a outros vários pingüins, pra ver se alguma sereia bêbada ia cair na conversa deles em um bar de esquina. Afinal pingüim gosta de peixe.

Não pude ver o fim da história. O Roberto sumiu na multidão. Sua mulher não saiu atrás dele, por saber que não ia adiantar mesmo. Ela fez o que lhe restava fazer: Se voltou pra avenida e dançou como se não tivesse um pingüim solto no mar de São Paulo.

Volta

Mais de 6 meses sem postar nada por aqui. Continuei a escrever mas sem mostrar. Porque? Pra que saber? A maior virtude de um blog é essa: o autor pode fazer absolutamente tudo o que quiser com ele. Inclusive não fazer nada.
Voltei. Até quando? Sei lá.