domingo, 19 de outubro de 2008

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O que faço com essa falta de conteúdo que me obriga a ter conteúdo pra nela conteúdo dar? Essa limpeza que só me lembra que quanto mais as teclas soarem, mas sujo fica o branco, mais forma nele se forma, mais sai de mim pro mundo.

Da linha que pisca gritando “me faz correr”, dos dedos que berram “queremos parar”, da cabeça que sussurra “mal você sabe que ainda nem começou”.

Enquanto eu brigar entre o parar ou recomeçar, se o questionamento existir, suspeito que continuarei sujando o papel, cansando os dedos, ignorando a cabeça.

...

17:02
E o que é o tic-tac? Eu já nem ouço mais esse barulho. Quantos sons o meu avô ouvia que eu não ouço? Quantos barulhos eu aturo hoje que ele nem imaginava existirem? Deve ser mais ou menos como a visão das abelhas. Elas vêem mais cores do que a gente. Descobri isso quando eu tinha 13 anos. Fiquei uma tarde toda pensando só nisso: Como seria uma outra cor além dessas que eu conheço? Naquele dia comecei a perceber que eu sou ínfimo.

Aos 21 ainda acho que tudo é engraçado. Tudo é bonito. Tudo pode melhorar. Desconfio que essa visão de mundo é como tentar segurar um punhado de areia, que vai se esvaindo aos poucos até que só fica um pouco do que um dia foi, se nos esforçarmos pra que assim seja.

Me incomodo com o tempo. Apesar de às vezes desconfiar que ele não exista. O fim de semana passa rápido e só fui descobrir que os dias de semana são produtivos quando comecei a trabalhar neles. Como eu sei perder tempo. Podia me graduar nisso. A TV ajudou, mas não vou gastar linhas culpando a mídia porque no que é externo é mais fácil enxergar defeitos.

Até a imagem da ampulheta sempre me impressionou, acho hipnótico aquilo, o formato, a areia, a certeza de estar olhando para o tempo passar. Aquilo me mata. É a prisão do tempo. Ao mesmo tempo adoro.

Dormir então, nossa, isso que é perda, por mais que os cientistas digam que é importante, se é pra sonhar prefiro que seja na vida real, no trânsito, no banho, no jantar, no supermercado. É melhor do que ficar só, deitado numa espuma me escondendo do mundo.

17:20
Em 18 minutos, pensei nos barulhos, nas cores, no meu avô, na minha visão de mundo, no tempo e no sono. Como cabe tanto pensamento em pouco tempo. Acho que a melhor coisa é usá-lo assim:
Em dúzias de linhas cheias de intenções, e apesar de pouco talento pra escrever o que se pensa, se faz. O que quer que seja.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Em volta de mim

Eles estão todos jogados nessas ruas sem cor, fingindo ser melhores que as abelhas. Será que sou um deles? Cada vez mais apertados em baixo da terra, nesses tubos barulhentos e opacos. Cada vez mais distantes uns dos outros com esses fios pendurados no pescoço, que sobem em direção a cabeça e tapam os ouvidos. Cada um preso na sua fuga, no som que abafa a realidade e exclui quem não tem seu próprio fio caindo sobre o ombro.

Respirar? Por enquanto dá. Comer? Já não dá mais pra saber o que a comida esconde. Tem até pó que vira sopa! E o leite virou pó! E gente morrendo de fome enquanto outras estão morrendo de tanto comer.

Ninguém se enxerga, só olha. Se em cinco minutos não se agradam, não se veem nunca mais. Se em cinco minutos se agradam, ficam mais cinco, e depois não se veem nunca mais.

O tempo é a coisa mais importante por aqui. Querem dinheiro pra ter tempo. Querem Poder pra ter tempo. Querem injeções de tempo.


E quando paro pra pensar, olho um pra tentar enxergar o todo. Esse um, que vê o todo e só enxerga a si mesmo.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Investigando as entrelinhas das Investigações

Os nomes das operações da Polícia Fedral estão em evidencia tanto o quanto os investigados. Tem de tudo, desde alusões a filosofia até a maluquices sem sentido de alguém que devia estar rindo de toda a sujeira no qual se via mergulhado.

Satiagraha, além de ser um trava-língua, significa “resistência pacífica e silenciosa”. O que pretendiam dizer com isso? Que os investigados eram homens refinados, que seriam educados na hora de estender as mãos para os metais circulares do Estado?

Operação Navalha, que cortou a própria pele da polícia, quando revelou o envolvimento de vários “homens a serviço da Lei” em crimes tão baixos quanto uma navalha cortando a carne.

Operação Quixadá, nome do edifício onde “trabalhavam” os fraudadores investigados, que acaba por vir a calhar quando uns pensam que tem o direito de se apropriar do que não é seu. Segundo alguns estudiosos a palavra quixadá significa “Oh! Eu sou o Senhor”.

Operação Hipócrates, uma referência ao pai da medicina, em uma investigação que desvendou fraude em farmácias. Será que neste caso o criador do nome era intelectual?

Toque de Midas, é uma referência à lenda do Rei Midas, da Grécia, do qual se dizia que todas as coisas em que ele punha a mão se transformavam em ouro. Investigou a empresa do ex-marido da atriz(?) Luma de Oliveira(Eike Batista) que se sujou na floresta amazônica, achando que por estar no meio do mato, ninguém ia perceber seu crime.

Queria ter esse emprego: escolher nome para as operações da Polícia Federal. Os crimes estão em tantas áreas, que um redator publicitário teria muito trabalho, além de poder se divertir nas entrelinhas dos nomes que o Willian Boner falaria com tanta seriedade na TV.

sábado, 11 de outubro de 2008

Uma mensagem de amor

Todo dia te olho curiosa. Tento te entender. Ainda me impressiono com sua racionalidade, sua constante mania de organização, a pouca espontaneidade. Você me cansa, exige sempre muito de mim. Revela surpresas e parece não ter vergonha de mostrar seus defeitos, tão evidentes e as vezes até brutais. Pra mim, sua beleza está nisso tudo, no fato de não ser trivial, não ser aquilo que se espera.

Quanto tempo vou ficar com você? A cada minuto testando minha resistência e mesmo assim, consigo achar que tudo isso vale a pena. Não me venha com muita frieza, porque gosto é de calor. Não se faça de muito difícil porque se não eu desisto. Não seja tão inacessível porque isso me desgasta.

Estamos juntos a mais de dois anos e mudei minha vida inteira pra fazer parte de você. Continue me conquistando que eu prometo te ‘agüentar’ por mais bom tempo.

Sei que você pode ser incrível. Já me mostrou isso muitas vezes. Seja assim: se enrolando em complexidade, nas suas várias caras, e me encantando cada vez mais. Mude e permaneça igual, porque foi por tudo isso que me apaixonei por você, São Paulo.