domingo, 19 de outubro de 2008

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O que faço com essa falta de conteúdo que me obriga a ter conteúdo pra nela conteúdo dar? Essa limpeza que só me lembra que quanto mais as teclas soarem, mas sujo fica o branco, mais forma nele se forma, mais sai de mim pro mundo.

Da linha que pisca gritando “me faz correr”, dos dedos que berram “queremos parar”, da cabeça que sussurra “mal você sabe que ainda nem começou”.

Enquanto eu brigar entre o parar ou recomeçar, se o questionamento existir, suspeito que continuarei sujando o papel, cansando os dedos, ignorando a cabeça.

9 comentários:

Mari Lacanna disse...

"quanto mais as teclas soarem" me desiludiu. Eu sempre gosto de imaginar o escritor com um caderno, uma caneta tinteiro, debruçado numa mesinha, num cômodo melancólico. Nada de modernidades, botões...

cebola disse...

nada a ver com esse post, mas eu tava pensando no domingo de manhã enquanto ia buscar pão, esse negócio de enfrentar a tela (ou o papel como gostaria a mari) em branco não existe, pelo menos pra mim a história ja existe toda na cabeça, é só começar a escrever...

Anônimo disse...

Talvez pq vc nunca teve que escrever algo, mesmo sem ter a historia na cabeça...aí que tá a diferença...

Danilo disse...

eu gosto de desenhar =D

Anônimo disse...

Me fez lembrar o que Drummond escreveu (e olha que para ele era muito mais simples que para nós, num plural de modéstia, mas pra mim mesmo):

Lutar com palavras é a luta mais vã.
Entanto lutamos mal rompe a manhã.
São muitas, eu pouco.
Algumas, tão fortes como o javali.
Não me julgo louco.
Se o fosse, teria poder de encantá-las.
Mas lúcido e frio, apareço e tento apanhar algumas
para meu sustento num dia de vida.
Deixam-se enlaçar, tontas à carícia e súbito fogem
e não há ameaça e nem há sevícia
que as traga de novo ao centro da praça.

Rafa Brandão disse...

Não tenho nada a comentar. É porque esse é o único jeito de a senhorita lembrar que eu existo. Vê se você aprova.

Mari Lacanna disse...

Quero textos novos. AGORA!

Unknown disse...

joyce, pára de trabalhar e volte a encher nossos corações com seus textos, seus sorrisos de jaca azeda e seus tacacás.

Unknown disse...

Esse texto me lembra da leveza da nossa querida Cecilia Meireles.
Muito bom bom!