quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Confissões de adolescente

Sempre imaginei quem seriam os autores dessas músicas românticas de sucesso que são cuspidas dos rádios e entram na nossa cabeça sem que a gente possa escolher se quer ou não decorar a letra da música. E acabamos decorando.

Pensava que esses autores eram homens de negócios, que escreviam essas letras pra ganhar dinheiro, com rimas pobres, chavões, palavras simples e sonoras, mais alguns gritos e pronto: você tem uma música de sucesso.

Pra minha surpresa conheci a autora de uma música de sucesso da Vanessa Camargo. Nada do que eu esperava. Era uma menina, uns 16 anos, infantil, cheia de ilusões platônicas, pôsteres de atores e filmes de comédia romântica na parede do quarto.

Talvez um caso isolado, mas real. Palavras pobres saídas da cabeça de uma adolescente-padrão, dessas que se apaixonam ‘profundamente’ por quem nem conhecem e dizem que amam o namorado depois de duas semanas de namoro. Elas acabam colecionando alianças de compromisso, dessas relações que duram 3 meses e resultam em musiquinhas pequenas, que fazem sucesso na boca de outras meninas-padrão que não param pra pensar no que estão ouvindo.

domingo, 9 de novembro de 2008

Do ofício

Mal sentar pra começar
Faz a sinapse se apressar
Se ela não vem
Na rua está
Gastando mais neurônios
Pra voltar a sentar

Esticando a consciência
A imaginação quer descansar
Mas o tempo não deixa
Acorda pra nunca mais deitar

Tem que ter o dom de adivinhar
O que passa na cabeça do par
Nem sempre dá certo
Mesmo que se saiba como falar

Sem esquecer de sensibilizar
Vai e volta a desligar
E retoma com uma dose
Não dá pra querer parar

domingo, 19 de outubro de 2008

[ ]

O que faço com essa falta de conteúdo que me obriga a ter conteúdo pra nela conteúdo dar? Essa limpeza que só me lembra que quanto mais as teclas soarem, mas sujo fica o branco, mais forma nele se forma, mais sai de mim pro mundo.

Da linha que pisca gritando “me faz correr”, dos dedos que berram “queremos parar”, da cabeça que sussurra “mal você sabe que ainda nem começou”.

Enquanto eu brigar entre o parar ou recomeçar, se o questionamento existir, suspeito que continuarei sujando o papel, cansando os dedos, ignorando a cabeça.

...

17:02
E o que é o tic-tac? Eu já nem ouço mais esse barulho. Quantos sons o meu avô ouvia que eu não ouço? Quantos barulhos eu aturo hoje que ele nem imaginava existirem? Deve ser mais ou menos como a visão das abelhas. Elas vêem mais cores do que a gente. Descobri isso quando eu tinha 13 anos. Fiquei uma tarde toda pensando só nisso: Como seria uma outra cor além dessas que eu conheço? Naquele dia comecei a perceber que eu sou ínfimo.

Aos 21 ainda acho que tudo é engraçado. Tudo é bonito. Tudo pode melhorar. Desconfio que essa visão de mundo é como tentar segurar um punhado de areia, que vai se esvaindo aos poucos até que só fica um pouco do que um dia foi, se nos esforçarmos pra que assim seja.

Me incomodo com o tempo. Apesar de às vezes desconfiar que ele não exista. O fim de semana passa rápido e só fui descobrir que os dias de semana são produtivos quando comecei a trabalhar neles. Como eu sei perder tempo. Podia me graduar nisso. A TV ajudou, mas não vou gastar linhas culpando a mídia porque no que é externo é mais fácil enxergar defeitos.

Até a imagem da ampulheta sempre me impressionou, acho hipnótico aquilo, o formato, a areia, a certeza de estar olhando para o tempo passar. Aquilo me mata. É a prisão do tempo. Ao mesmo tempo adoro.

Dormir então, nossa, isso que é perda, por mais que os cientistas digam que é importante, se é pra sonhar prefiro que seja na vida real, no trânsito, no banho, no jantar, no supermercado. É melhor do que ficar só, deitado numa espuma me escondendo do mundo.

17:20
Em 18 minutos, pensei nos barulhos, nas cores, no meu avô, na minha visão de mundo, no tempo e no sono. Como cabe tanto pensamento em pouco tempo. Acho que a melhor coisa é usá-lo assim:
Em dúzias de linhas cheias de intenções, e apesar de pouco talento pra escrever o que se pensa, se faz. O que quer que seja.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Em volta de mim

Eles estão todos jogados nessas ruas sem cor, fingindo ser melhores que as abelhas. Será que sou um deles? Cada vez mais apertados em baixo da terra, nesses tubos barulhentos e opacos. Cada vez mais distantes uns dos outros com esses fios pendurados no pescoço, que sobem em direção a cabeça e tapam os ouvidos. Cada um preso na sua fuga, no som que abafa a realidade e exclui quem não tem seu próprio fio caindo sobre o ombro.

Respirar? Por enquanto dá. Comer? Já não dá mais pra saber o que a comida esconde. Tem até pó que vira sopa! E o leite virou pó! E gente morrendo de fome enquanto outras estão morrendo de tanto comer.

Ninguém se enxerga, só olha. Se em cinco minutos não se agradam, não se veem nunca mais. Se em cinco minutos se agradam, ficam mais cinco, e depois não se veem nunca mais.

O tempo é a coisa mais importante por aqui. Querem dinheiro pra ter tempo. Querem Poder pra ter tempo. Querem injeções de tempo.


E quando paro pra pensar, olho um pra tentar enxergar o todo. Esse um, que vê o todo e só enxerga a si mesmo.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Investigando as entrelinhas das Investigações

Os nomes das operações da Polícia Fedral estão em evidencia tanto o quanto os investigados. Tem de tudo, desde alusões a filosofia até a maluquices sem sentido de alguém que devia estar rindo de toda a sujeira no qual se via mergulhado.

Satiagraha, além de ser um trava-língua, significa “resistência pacífica e silenciosa”. O que pretendiam dizer com isso? Que os investigados eram homens refinados, que seriam educados na hora de estender as mãos para os metais circulares do Estado?

Operação Navalha, que cortou a própria pele da polícia, quando revelou o envolvimento de vários “homens a serviço da Lei” em crimes tão baixos quanto uma navalha cortando a carne.

Operação Quixadá, nome do edifício onde “trabalhavam” os fraudadores investigados, que acaba por vir a calhar quando uns pensam que tem o direito de se apropriar do que não é seu. Segundo alguns estudiosos a palavra quixadá significa “Oh! Eu sou o Senhor”.

Operação Hipócrates, uma referência ao pai da medicina, em uma investigação que desvendou fraude em farmácias. Será que neste caso o criador do nome era intelectual?

Toque de Midas, é uma referência à lenda do Rei Midas, da Grécia, do qual se dizia que todas as coisas em que ele punha a mão se transformavam em ouro. Investigou a empresa do ex-marido da atriz(?) Luma de Oliveira(Eike Batista) que se sujou na floresta amazônica, achando que por estar no meio do mato, ninguém ia perceber seu crime.

Queria ter esse emprego: escolher nome para as operações da Polícia Federal. Os crimes estão em tantas áreas, que um redator publicitário teria muito trabalho, além de poder se divertir nas entrelinhas dos nomes que o Willian Boner falaria com tanta seriedade na TV.

sábado, 11 de outubro de 2008

Uma mensagem de amor

Todo dia te olho curiosa. Tento te entender. Ainda me impressiono com sua racionalidade, sua constante mania de organização, a pouca espontaneidade. Você me cansa, exige sempre muito de mim. Revela surpresas e parece não ter vergonha de mostrar seus defeitos, tão evidentes e as vezes até brutais. Pra mim, sua beleza está nisso tudo, no fato de não ser trivial, não ser aquilo que se espera.

Quanto tempo vou ficar com você? A cada minuto testando minha resistência e mesmo assim, consigo achar que tudo isso vale a pena. Não me venha com muita frieza, porque gosto é de calor. Não se faça de muito difícil porque se não eu desisto. Não seja tão inacessível porque isso me desgasta.

Estamos juntos a mais de dois anos e mudei minha vida inteira pra fazer parte de você. Continue me conquistando que eu prometo te ‘agüentar’ por mais bom tempo.

Sei que você pode ser incrível. Já me mostrou isso muitas vezes. Seja assim: se enrolando em complexidade, nas suas várias caras, e me encantando cada vez mais. Mude e permaneça igual, porque foi por tudo isso que me apaixonei por você, São Paulo.

terça-feira, 30 de setembro de 2008

Bárbara

Bárbara quer os detalhes que ninguém vê. Quer sair do metrô exatamente quando vier aquele vento que entrelaça o cabelo, quando a nuvem que cobre o sol escorrega um pouco pra esquerda, e o seu ipod começa a tocar aquela música perfeita pra começar um dia, daquelas que dá vontade de sorrir e dançar.

Bárbara quer o mínimo que faz toda a diferença. Conversar com seu namorado sobre qualquer trivialidade e que ele não preste atenção em nada, a não ser nos seus lábios mexendo e nesse momento pense o quanto ela é bonita quando não se importa com sua aparência.

Bárbara gosta de quem sorri para um estranho na rua, olha um casal e pensa como eles parecem combinar tão bem. Ela desacelera quando se depara com um velhinho, porque sabe que pra ele o tempo passa em outro ritmo. Por que correr para chegar ao trabalho? Por que correr pra chegar na aula? Pra que correr se não for num parque colorido só de tons verdes ao som dos latidos de cachorros e risadas de crianças?

Bárbara consegue achar bonitas as variações de cinza que quase cobrem o céu. Consegue até não se irritar com o Banco, se o dia estiver iluminado. Sabe que amanhã pode ser um dia mais difícil que hoje, que pode ser muito cansativo e que mesmo ela sendo tão nova, pode sentir dores nos joelhos de tanto ficar sentada em frente de um computador.

Bárbara sente que se tudo pode piorar, também pode melhorar muito. Que se existem surpresas ruins, também existem as boas. Que o fim de semana passa muito rápido, mas sentir o tempo passando assim é sinal de que se está vivendo-o em toda sua intensidade. Bárbara só quer saber mesmo é de viver.

[Às minhas amigas. Nesse texto tem um pouco de cada uma de vocês]

domingo, 28 de setembro de 2008

Lugares-comuns mais que comuns:

- Artista plástico que odeia TV.
- Pedagogos que querem quebrar paradigmas.
- Caras bombados que usam correntes de prata = coleiras de cachorro.
- Rainha de bateria que namora pagodeiro.
- Apresentador de programa dominical ser chato-insuportável.
- Ter crianças no ônibus falando sem parar sempre que você tá morrendo de dor de cabeça.
- Publicitários moderninhos que só vão a lugares moderninhos.
- Publicitários (as) que querem engraçados em seus blogs. (hú)

domingo, 21 de setembro de 2008

Não ao adeus

Foi uma surpresa. Como não percebi isso vindo na minha direção? Onde eu estava que surda e cega ignorei esse silêncio que abriu um buraco imenso entre nós? Não posso ouvir a palavra “acabou”. Não posso ouvir as palavras “nunca mais”. Não foi isso que combinamos. O trato era ser pra sempre, até morrer, até depois que morrer. Dá vontade de te bater, de me bater, de quebrar tudo. Nunca fui dessas de explodir, mas agora tenho um bom motivo pra derrubar a casa inteira, pra derrubar todas as casas da nossa rua. Eu quero falar e te convencer a ficar. Penso até em implorar, porque não conheço a palavra humilhação quando se trata de fazer você não sair pela porta. Penso em apelar pras boas lembranças, aos momentos sozinhos, viagens a dois e as piadas que só nós entendemos. Olha em volta: é o nosso mundo. Você vai deixar isso pra trás e se lançar naquele espaço lá fora? Não é seguro. Fica. Aqui você tem em cada canto um pedaço de uma vida. Em todos os detalhes somos nós. Se não está do jeito que a gente quis, foi do jeito que a gente conseguiu. Eu mudo se tiver que mudar. Ou posso continuar a mesma. Posso ficar loira, ou ruiva ou nipônica se você preferir. Eu vou emagrecer aqueles quatro quilos pra ficar mais bonita. Vou me interessar por fórmula 1 e aprender a fazer comida árabe. Vou ser tudo o que não fui e juro que não reclamo da sua mania de deixar tudo jogado pela casa. Pensa mais. E fica mais. Não me fala que o problema é você. Tudo em você é perfeito. Inclusive seus defeitos. Já tá na hora de acabar com essa brincadeira de mau gosto. Já percebi o quanto te amo e já podemos fazer as pazes. Não me sufoca mais com esse olhar de adeus e começa a rir da minha ingenuidade, de eu ter acreditado nesse seu falso discurso. E se isso tudo não for suficiente me fala o que você quer, que eu faço, peço, rezo, invoco, transformo e te seguro, mais um pouco aqui dentro, nesse nosso mundo.

terça-feira, 16 de setembro de 2008

A criatividade da comunicação 'amadora' II

Hoje vi uma placa incrível bem perto de onde trabalho:
Copiadora x (é x mesmo)
"As idéias originais nascem aqui."

Me pergunto: Como numa copiadora se cria algo original?!

O Pequeno Príncipe perdido no (Miss) universo

Nutri desde cedo um preconceito com o Pequeno príncipe. Ele me parecia um lorinho bobo, fora da minha realidade, metrosexual demais (numa época em que isso nem existia). Mas principalmente não gostava dele porque era o livro mais citado entre os concursos de Miss.

Também tinha (e confesso que tenho ainda) preconceito com esses concursos. Pelo simples fato de serem superficiais, não terem a mínima relevância pra vida de ninguém, a não ser pra vida das mocinhas que dele participam (se bem que até disso eu chego a duvidar). Mas entendo que concursos fazem parte dessa mania dos homens de escolher sempre os melhores, mais fortes, mais bonitos, os mais inteligentes, fazer rankings e listas de tudo.

E por tudo isso nunca li o livro. Na verdade até o ano passado, quando trabalhei numa livraria e resolvi que era hora de encarar o livro preferido das Misses. E que surpresa: Grande livro. Imenso. De significado, de beleza, de ensinamento.

Por que ele é tão citado por ‘moças ocas’ então? Elas entenderam esse livro tão cheio de metáforas e entrelinhas? Conseguiram tirar dele todo o seu real conteúdo? Subestimei as moças-sempre-sorridentes só por se colocarem numa avaliação puramente estética, ou elas é que gostam dele só por ser lorinho, bobinho perdidinho no universo?

Não tenho a resposta. Não espero ter. Com essa história só aprendi que nem todas essas garotas lindas são ‘farinha do mesmo saco’, nem todos os livros devem ser julgados pela capa e que todo o príncipe deve ser meio estranho mesmo (!).

domingo, 14 de setembro de 2008

A criatividade da comunicação ‘amadora’

Uma das melhores coisas para se ver numa cidade são os nomes de lojas e seus respectivos logos. Dos melhores aos mais toscos (principalmente esses).

Nas minhas viagens já vi coisas memoráveis, até anotava num caderno pra não esquecer de contar a história depois. Perdi o caderno, mas alguma coisa ficou na memória. Em Fortaleza me deparei, em uma única avenida, com pérolas de criatividade como a Funerária Opção e Madeireira Casa dos tijolos. A poucos dias vi o nome de um posto de gasolina no mínimo curioso: Posto Algo mais. A primeira coisa que pensei foi que o algo mais era a gasolina adulterada.


Essa semana enquanto brigava com sono pra conseguir atravessar a rua, e seguir pra mais um dia de trabalho, li a placa: Lava rápido: ducha com neve e cera. Neve? Nossa, eu nunca vi neve e nem sabia que tinha do lado da minha casa!

O mais singelo nome que já vi foi de um boteco (é mais uma birosca, como falamos em Belém) no fim da favela Heliópolis, num pedaço de madeira usado como placa, escrito com um giz azul: Cantinho da cirrose. Que meigo! É uma paixão tão grande pela birita, que até reserva um cantinho especial pra cirrose! Impagável. O nome de “bar” mais engraçado que já vi na vida.

Nada como esbarrar com a criatividade e humor (pra não dizer falta de noção) dos comerciantes. Às vezes erram, às vezes acertam. O que não deixam de fazer é alegrar os dias de quem enxerga esses ‘detalhes’ preciosos em meio ao caos das cidades.

sábado, 13 de setembro de 2008

11/09 e a imagem do novo século

O onze de setembro passou, e eu passei alheia a ele. Só me toquei dois dias depois, porque li as pessoas relembrando e comentando de tudo um pouco. Os fatos (e fotos) falam por si? As imagens são impressionantes, das mais marcantes (se não a mais) do século passado. Quais serão as imagens mais incríveis teremos deste século que está quase completando a primeira década? Alguém se habilita a imaginar-prever-chutar?

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Um rebanho burro (ou surdo)

Um dos lugares onde me sinto mais animal (não como a expressão para ‘bacana’ da década de 90) é o metrô. Tanta gente com pressa tendo que:
-Fazer fila pra escada rolante;
-Ficar parado atrás da fixa amarela, e bem em frente onde a porta do metrô pàra;
- Não entrar nem sair após o sinal;
- Carregar a mochila na frente do corpo;
- Ir para o corredor;
- Não impedir a entrada e saída dos usuários;
- Não sentar nos bancos de cor cinza;
- Abaixar o som do mp3.
São tantos outros comandos que como o gado confinado, ou uma turma de pré-escola, tenta caminhar numa organização a-normal. O mais incrível é que ninguém colabora com as “instruções” ditas por vozes autoritárias. O rebanho paulistano é burro ou surdo? Ou gosta mesmo é de transgredir?
Animal que é animal não obedece ninguém. É assim com o meu boxer, é assim com o povo do metrô. Gente que trabalha muito bem arrumada, na Paulista (ui) mas vira bicho quando chega o fim do dia.

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Coisas idiotas que eu (e você) já tive(mos) vontade de fazer:

- Pular no trilho do metrô.
- Pular do último andar do prédio.
- Se jogar do barco em movimento no meio do rio.
- Derrubar uma bandeja cheia de copos e/ou pratos.
- Jogar um copo de whisque na cara de alguém (como nos filmes).
- Ir num show do Asa de águia (essa é sacanagem, e seria pior de todas).

Obs> Não, eu não sou suicida, sou apenas curiosa.

Neste muro o que procuro?

A liberdade de expressão é tão forte que quando essa vontade de falar vem, parece impossível, pelo menos pra quem é impulsivo, falar tudo o que vem à cabeça.

Isso acontece com o Presidente, que fala sem discurso pré-estabelecido (daí sai um monte de bobagem), dos programas ao vivo (onde invariavelmente escapa um erro, uma tosse, um silêncio vergonhoso), ou até aqueles que com um spray na mão, tendo o muro como papel e a cidade como leitora, se expressam sem medo.

Um desses rasgos de expressão está em um muro da cidade pelo qual passo todo dia. E ainda acho engraçado como o autor da “obra” teve a capacidade de revelar seu ódio e amor, assim, um logo após o outro. Será que é porque, como dizem, amor e ódio estão mesmo bem próximos?

Em baixo de um viaduto, sob a luz laranja-vitamina c-pálida do fim de tarde, estão os dizeres: “Kassab vai se fuder!” seguida de “Ká te amo”.

É estranho achar isso estranho? Será que quando ele se viu com a arma da palavra queria reclamar do governo e aproveitou pra se declarar a namorada? Ou era um romântico underground que aproveitou a declaração de amor para também declarar seu descontentamento político?

Eu já analisei as letras nos rápidos momentos em que o ônibus passa pelo tal muro. São da mesma pessoa. O “K” é revelador, não deixa dúvidas: é o mesmo autor.

Esteticamente é feio. Mas se olhado por outro ângulo o muro é só mais uma faceta de São Paulo. Uma cidade que não deu papel e caneta pra que ele não precisasse pegar num spray. Ou, é uma cidade tão opressora que “desvirtua” quem teve muito papel e caneta, mas preferiu um muro pra gritar que existe. Uma cidade cujo muro não espera resposta, limpeza, sentido.

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

7 segredos que um “Cult” tem, mas não fala pra ninguém:

- Diz que adora a Piauí, mas não lê porque acha as reportagens muito longas.
- ‘Se joga’ quando toca um funk numa festa de formatura (e sabe toda a letra).
- Fala de Godard e Truffaut, mas não tem a mínima idéia do que é Nouvelle vague.
- Não tem nenhum problema na visão, mas usa óculos com aquela armação preta.
- Sabe pelo menos 3 letras de qualquer música da Ivete Sangalo.
- Tem fotolog secreto com fotinhas com seus miguxos preferidos.
- Disse que queria ir ao show do João Gilberto, mas vai mesmo é pro show da Madonna.

Frases inteligentíssimas que ouvi numa só viagem de ônibus (rs)

Em mais um fim de tarde a bordo da linha 494:

- “Você é viado seu gay”
- “Ai amiga não compra xampu com sódio porque tem química”
- “Eu até podia fazer faculdade, mas tem que ir pra aula todo dia...”
- “Eu já fui bailarina de axé, forró...”
- “Andar de carro é diferente de andar de Ônibus”

sábado, 6 de setembro de 2008

Guia de viagem

Viajar de carro só é bom se você fizer uma lista importantíssima antes de embarcar. Eis um pequeno guia, que eu não segui, quando fiz minha última viagem pro Rio:

- Música
Não dá pra ficar horas num carro se o dono dele tem gosto sonoro duvidoso. Já pensou agüentar Chiclete com banana, Nxzero ou Inimigos do hp durante 5 horas?

-Cantores amadores
Geralmente vem num combo com o item acima. São dois metros quadrados divididos com quatro pessoas e sempre tem aquele cara que acha que tá num caraokê, ou pior, acha que ta dando um show no Rock in`Rio. Obrigar os outros a ouvir o que só os azulejos do banheiro ouvem é dose.

- O motorista
Um cara que dirige muito devagar irrita todo mundo, mas um cara que corre demais deixa os passageiros tensos, pelo menos eu, que tenho uma certa neura com acidentes de trânsito (talvez por já ter sofrido uns três).

- Xixi
Pessoas com bexiga fraca, ou seja lá qual for o problema, que tem que parar pra fazer xixi a cada meia hora, e a cada parada compram mais garrafinhas d´água pra beber na viagem. Parece provocação!

- Empolgados
Eles estão felizes, o que é ótimo, e nos primeiros dez minutos são a melhor companhia do mundo, mas imagina mais de uma hora ao lado de um cara que fala “uhu!!!!!! Vamo bombar galera, quero ver todo mundo muito louco no litoral, uhu!!!!” a cada 5 minutos?

Fuga do amor romântico

Não quero um amor romântico
Tão pouco semântico
Quero se seja sempre no agora
E renovado a cada instante

Pode dar voltas
Só se for pra saber que quer voltar
Pode ser muitos
Sempre o mesmo e sem parar

Não me explique
Não me entenda
Fale até cansar
E só diga a verdade quando eu perguntar

Repita todo dia
Tudo o que não espero ouvir
Surpreenda sendo outro
E não me deixe dormir

Diga a primeira palavra da manhã
E todas as outras também
Fuja sem dizer nada
Me controle, me solte, me queira bem

Encontro de contrários

Seus cabelos pretos e cumpridos se confundiam com a cor de seus olhos. A pele branca sem nenhuma marca revelava que ela não tinha mais que 17 anos. Os cabelos estilo exército e o olhar sério eram um recurso falho de parecer mais velho. E numa parada de ônibus começou. Em três meses já sabiam os movimentos um do outro. A mania de esticar os pés e pintar as unhas de cor escura. O vício de roer as unhas na mesa de jantar e ter sempre a última palavra. Duas personalidades fortes. E mais três meses as brigas continuavam acabando em risadas. Como era ótimo saber que suas opiniões opostas não eram empecilho pra colocarem gargalhadas um no rosto do outro. Por que o tempo passa e eles mudam tanto? E ainda assim os olhares se decifram em instantes. As palavras continuam revelando algo novo. Uma historia que não tinha ouvido, e mais uma opinião contrária. Tem sempre um que se entrega mais? Um que gosta mais? E medir isso importa?

Todo carnaval tem seu fim

Não dá pra morar nesse país sem ter que lidar com o carnaval. Aquele da Bahia, de um monte de gente imprensada, ouvindo música ruim e pagando caro por isso já deu pra ver que não gosto. O carioca é mais minha praia, samba-enredo e aquela bateria alucinante.

Quando era mais nova queria ser rainha de bateria, que fique claro, porque acho que é o melhor lugar pra sair na avenida e não por querer exibir dotes físicos que não tenho. No ano passado fui ela primeira vez ver os desfiles no sambódromo de São Paulo. Adorei. É muito melhor do que ver na tv. Os detalhes, as cores e a animação são muito mais contagiantes ao vivo. Esse ano fui de novo. Dancei, cantei e aproveitei pra prestar mais atenção aos detalhes que fazem desses eventos experiências únicas.

Então aqui vai a história do Roberto. Um componente da bateria da x-9 paulistana. O desfile da escola tinha acabado, e ele fantasiado foi ao encontro da mulher que gritava por ele da arquibancada:

- Roberto, vem cá.
- To indo.
- Roberto, não vai pro bar tá me ouvindo?
- Eu vou sim.
- Roberto você não vai!
- É carnaval amor.

Eu ouvia os dois gritando um com o outro e pensando: Como uma mulher consegue levar a sério um cara vestido de pingüim? Proibir um animal gigante de espuma de fazer o óbvio: Se juntar a outros vários pingüins, pra ver se alguma sereia bêbada ia cair na conversa deles em um bar de esquina. Afinal pingüim gosta de peixe.

Não pude ver o fim da história. O Roberto sumiu na multidão. Sua mulher não saiu atrás dele, por saber que não ia adiantar mesmo. Ela fez o que lhe restava fazer: Se voltou pra avenida e dançou como se não tivesse um pingüim solto no mar de São Paulo.

Volta

Mais de 6 meses sem postar nada por aqui. Continuei a escrever mas sem mostrar. Porque? Pra que saber? A maior virtude de um blog é essa: o autor pode fazer absolutamente tudo o que quiser com ele. Inclusive não fazer nada.
Voltei. Até quando? Sei lá.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Sair de casa

Sempre tive vontade de sair de casa. Morar só. Com sete anos lembro de olhar os adultos e pensar: nossa, eles podem entrar num carro e irem a onde quiserem, sempre tem dinheiro na carteira, são grandes e podem sair de noite. Ainda tem o tal de “assunto de adulto” que sempre me exclui, e deve ser bem legal.

Imaginava que ser adulto era o passaporte pra morar sozinha. Que bacana ter minha casa, do jeito que eu quero, poder andar pelada sempre que quisesse (como se as pessoas que moram sozinhas fizessem muito isso!). Mas pouco depois de entrar na adolescência achei que tinha chegado o momento. Briguei com minha mãe. Não lembro o motivo, mas quando você tem 12 anos não tem uma briga muito séria com sua mãe. E decidi sair de casa. Mas antes ameacei:

- Olha que eu saio de casa!
Ela sempre tinha a reação que nenhum filho adolescente gosta, a indiferença:
- Então vai.
- Ótimo.

Peguei uma mochila, coloquei um casaco, um pacote de biscoito, um travesseirinho e mais qualquer bobagem. Saí sem pensar. Bati a porta (claro) e desci do prédio.
Quando cheguei lá em baixo pensei: e agora? Pra onde vou, o que faço? De onde vou tirar dinheiro? Nem sei cozinhar, lavar roupa, escolher detergente. Nossa! Ser adulto é muito difícil.

Por orgulho, fiquei umas três horas lá em baixo, comendo o biscoito e vestindo o casaco na ventania do fim de tarde. Quis minha cama. Quis o macarrão da minha mãe. Então chega. Cansei de brincar. É melhor não ser adulta. Pelo menos por enquanto.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

(Des)culpa

O dia era de muito calor no Rio de janeiro, onde passei as férias neste fim de ano. E ao entrar num supermercado não imaginava o que me esperava. O próprio inferno na Terra. Não somente pela temperatura, mais principalmente por, bem, basicamente tudo.

O local era horroroso, imundo, lotado. Cheio de crianças (claro que elas estavam chorando e fazendo birra). Era um empurra-empurra frenético, porque imagino eu, ninguém estava agüentando ficar ali. O calor da cidade pede poucas roupas, o que é ótimo se você está num lugar espaçoso, onde ninguém vai encostar o braço gordo e suado nas suas costas limpinhas, que acabaram de sair do chuveiro. Não era esse o caso.

Nesse cenário, com cheiro de cebola misturado com sabonete de quinta categoria, aconteceu o inevitável: esbarrei num cara. Não de propósito, mas como estava de saco cheio, fiz o que qualquer um faria, não pedi desculpas e continuei meu caminho. Ele ficou puto. Muito puto. Falou qualquer coisa que eu não entendi. Então me deixou com uma culpa terrível. Eu não conseguia pensar em outra coisa a não ser procurar o cara e me desculpar com ele. Explicar que não foi de propósito, que diferente de todos ali naquele ambiente, eu era educada e sabia sim pedir desculpas. Até que nos encontramos de novo, só que fiquei com vergonha e não falei nada. Ele puxou propositalmente o carrinho pra trás enquanto eu passava pelo corredor, e me acertou pra me dar uma lição, porque logo depois disse “desculpa”, como quem diz “é assim que se faz moçinha”. E eu saí de perto.

Droga, tive a oportunidade de “me explicar” e não fiz nada, eu pensei. Tudo bem, na próxima eu falo. Pouco depois nos encontramos em outro corredor. Ele me olhava com raiva. Eu achei que ia jogar o carro com todo aquele bacon e coca-cola na minha cabeça.

Me aproximei dele. Quando olhei bem pro seu rosto eu vi. Ele era um nojento. Sabe aquela pessoa que é educada num supermercado, mas que tem cara de quem cospe do 4 andar pra acertar a cabeça de quem passa, corta os outros no trânsito e grita com a empregada? Eu detestei ele. Profundamente. E não pedi desculpas porra nenhuma. Se ele não era adulto o suficiente pra entender que naquela situação esbarrões eram inevitáveis, problema dele. Nisso minha mãe chamou e fui pra fila do caixa, leve, feliz, pensando que enquanto ele ia se encher de bacon e ficar horas remoendo aquela história eu ainda tinha tempo de ir pra ipanema ver o pôr-do-sol.

De táxi até Berlim

No caminho pra encontrar uma grande amiga, que não via a um bom tempo, queria ir pra um lugar bem legal, mas não conseguíamos nos chegar num consenso. Passada 1 hora de indecisão:

-Já sei, vamos pro Berlim.
-Então tá.

- Boa noite(pro taxista). vamos para o Berlim , na Barra funda, etc.
-Ok.

Depois daquele ok eu relaxei, pois pensava que o cara sabia onde era. Quando ele disse que tínhamos chegado eu falei:

-Não meu senhor, aqui é a D-edge. Nós vamos pro Berlim.
-Ah, é que você disse barra funda.
- Sim, mas não é esse!
-Ok.

Começou a enrolação. E o taxímetro rodando (na bandeira 2!). Então evoluiu pro medo.

- Lu, esse cara ta enganando a gente. Tá querendo nos roubar, ou nos estuprar. Ai meu deus! Amanhã vão me encontrar dilacerada numa lata de lixo.
-Relaxa Joyce, tá tudo bem.
-Que bem o quê! O cara tá dando voltas nesse bairro escuro e vazio. Olha! Uma churrascaria. Vamo pedir pra ele parar ali e pronto, é nossa salvação.
- Para com isso menina, é só a gente procurar que acha.

(Vale ressaltar aqui, que eu sou muito medrosa e minha amiga não tem noção alguma de perigo).

Conseguimos chegar. Depois de eu pedir 30 mil vezes pra ele pedir informação, e como todo homem ele se recusava. Ainda tive ouvir sermão dele.

-Olha moça, você tem que ser mais paciente.
-Ok!

Fomos ver o que ia tocar. Na plaquinha de quadro negro tinha escrito algo sobre anos 80. Opa, essa não. Nada de trash né?

-Entramos?
-Claro, já estamos aqui.

Enquanto isso, uns rapazes garbosos intervieram:

-Pode entrar sim que é muito boa a banda. Garantimos.
-Ah é? E se eu não gostar?
-Vai gostar.
- Se não for boa vocês pagam uma cerveja, tá bom?
- Tá bom. Pagamos até se a banda agradar.

Ok. Entramos. A banda era mesmo boa. E os caras vieram tentar animar mais ainda a noite (deles). Mas não era o momento. Amigas saudosas, nós preferimos colocar a conversa em dia.

Hora de ir embora. Chama outro táxi.

-Boa noite. Você vai até a Paulista e vira na Brigadeiro, etc.

Esse motorista gostava de papo. “Essa hora é perigoso, todos estão dirigindo bêbados, mas vocês são moças de família, logo se vê ...”(não sei se encarava como elogio ou não essa colocação).

Tudo correndo bem até que...boom! Bateram no carro. Bater num motorista de táxi as 3 da madrugada é pedir pra apanhar. Ele saltou e foi tomar satisfação com o peito estufado. O outro motorista era um cara bêbado. Com a namorada, que com jeitinho de moça de família resolveu tudo sem motivo pra socos e tapas.

Todos devidamente com telefones para resolver consertos de carro (na verdade só reparos leves) seguimos pro hotel.

- Obrigada.
- Obrigado e boa noite. Dá gosto de guiar moças tão finas.
- Obrigada! (em coro).

Subimos.
-Quer beber mais alguma coisa?
-Não. Quero dormir e não sonhar com táxis.