quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Sair de casa

Sempre tive vontade de sair de casa. Morar só. Com sete anos lembro de olhar os adultos e pensar: nossa, eles podem entrar num carro e irem a onde quiserem, sempre tem dinheiro na carteira, são grandes e podem sair de noite. Ainda tem o tal de “assunto de adulto” que sempre me exclui, e deve ser bem legal.

Imaginava que ser adulto era o passaporte pra morar sozinha. Que bacana ter minha casa, do jeito que eu quero, poder andar pelada sempre que quisesse (como se as pessoas que moram sozinhas fizessem muito isso!). Mas pouco depois de entrar na adolescência achei que tinha chegado o momento. Briguei com minha mãe. Não lembro o motivo, mas quando você tem 12 anos não tem uma briga muito séria com sua mãe. E decidi sair de casa. Mas antes ameacei:

- Olha que eu saio de casa!
Ela sempre tinha a reação que nenhum filho adolescente gosta, a indiferença:
- Então vai.
- Ótimo.

Peguei uma mochila, coloquei um casaco, um pacote de biscoito, um travesseirinho e mais qualquer bobagem. Saí sem pensar. Bati a porta (claro) e desci do prédio.
Quando cheguei lá em baixo pensei: e agora? Pra onde vou, o que faço? De onde vou tirar dinheiro? Nem sei cozinhar, lavar roupa, escolher detergente. Nossa! Ser adulto é muito difícil.

Por orgulho, fiquei umas três horas lá em baixo, comendo o biscoito e vestindo o casaco na ventania do fim de tarde. Quis minha cama. Quis o macarrão da minha mãe. Então chega. Cansei de brincar. É melhor não ser adulta. Pelo menos por enquanto.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

(Des)culpa

O dia era de muito calor no Rio de janeiro, onde passei as férias neste fim de ano. E ao entrar num supermercado não imaginava o que me esperava. O próprio inferno na Terra. Não somente pela temperatura, mais principalmente por, bem, basicamente tudo.

O local era horroroso, imundo, lotado. Cheio de crianças (claro que elas estavam chorando e fazendo birra). Era um empurra-empurra frenético, porque imagino eu, ninguém estava agüentando ficar ali. O calor da cidade pede poucas roupas, o que é ótimo se você está num lugar espaçoso, onde ninguém vai encostar o braço gordo e suado nas suas costas limpinhas, que acabaram de sair do chuveiro. Não era esse o caso.

Nesse cenário, com cheiro de cebola misturado com sabonete de quinta categoria, aconteceu o inevitável: esbarrei num cara. Não de propósito, mas como estava de saco cheio, fiz o que qualquer um faria, não pedi desculpas e continuei meu caminho. Ele ficou puto. Muito puto. Falou qualquer coisa que eu não entendi. Então me deixou com uma culpa terrível. Eu não conseguia pensar em outra coisa a não ser procurar o cara e me desculpar com ele. Explicar que não foi de propósito, que diferente de todos ali naquele ambiente, eu era educada e sabia sim pedir desculpas. Até que nos encontramos de novo, só que fiquei com vergonha e não falei nada. Ele puxou propositalmente o carrinho pra trás enquanto eu passava pelo corredor, e me acertou pra me dar uma lição, porque logo depois disse “desculpa”, como quem diz “é assim que se faz moçinha”. E eu saí de perto.

Droga, tive a oportunidade de “me explicar” e não fiz nada, eu pensei. Tudo bem, na próxima eu falo. Pouco depois nos encontramos em outro corredor. Ele me olhava com raiva. Eu achei que ia jogar o carro com todo aquele bacon e coca-cola na minha cabeça.

Me aproximei dele. Quando olhei bem pro seu rosto eu vi. Ele era um nojento. Sabe aquela pessoa que é educada num supermercado, mas que tem cara de quem cospe do 4 andar pra acertar a cabeça de quem passa, corta os outros no trânsito e grita com a empregada? Eu detestei ele. Profundamente. E não pedi desculpas porra nenhuma. Se ele não era adulto o suficiente pra entender que naquela situação esbarrões eram inevitáveis, problema dele. Nisso minha mãe chamou e fui pra fila do caixa, leve, feliz, pensando que enquanto ele ia se encher de bacon e ficar horas remoendo aquela história eu ainda tinha tempo de ir pra ipanema ver o pôr-do-sol.

De táxi até Berlim

No caminho pra encontrar uma grande amiga, que não via a um bom tempo, queria ir pra um lugar bem legal, mas não conseguíamos nos chegar num consenso. Passada 1 hora de indecisão:

-Já sei, vamos pro Berlim.
-Então tá.

- Boa noite(pro taxista). vamos para o Berlim , na Barra funda, etc.
-Ok.

Depois daquele ok eu relaxei, pois pensava que o cara sabia onde era. Quando ele disse que tínhamos chegado eu falei:

-Não meu senhor, aqui é a D-edge. Nós vamos pro Berlim.
-Ah, é que você disse barra funda.
- Sim, mas não é esse!
-Ok.

Começou a enrolação. E o taxímetro rodando (na bandeira 2!). Então evoluiu pro medo.

- Lu, esse cara ta enganando a gente. Tá querendo nos roubar, ou nos estuprar. Ai meu deus! Amanhã vão me encontrar dilacerada numa lata de lixo.
-Relaxa Joyce, tá tudo bem.
-Que bem o quê! O cara tá dando voltas nesse bairro escuro e vazio. Olha! Uma churrascaria. Vamo pedir pra ele parar ali e pronto, é nossa salvação.
- Para com isso menina, é só a gente procurar que acha.

(Vale ressaltar aqui, que eu sou muito medrosa e minha amiga não tem noção alguma de perigo).

Conseguimos chegar. Depois de eu pedir 30 mil vezes pra ele pedir informação, e como todo homem ele se recusava. Ainda tive ouvir sermão dele.

-Olha moça, você tem que ser mais paciente.
-Ok!

Fomos ver o que ia tocar. Na plaquinha de quadro negro tinha escrito algo sobre anos 80. Opa, essa não. Nada de trash né?

-Entramos?
-Claro, já estamos aqui.

Enquanto isso, uns rapazes garbosos intervieram:

-Pode entrar sim que é muito boa a banda. Garantimos.
-Ah é? E se eu não gostar?
-Vai gostar.
- Se não for boa vocês pagam uma cerveja, tá bom?
- Tá bom. Pagamos até se a banda agradar.

Ok. Entramos. A banda era mesmo boa. E os caras vieram tentar animar mais ainda a noite (deles). Mas não era o momento. Amigas saudosas, nós preferimos colocar a conversa em dia.

Hora de ir embora. Chama outro táxi.

-Boa noite. Você vai até a Paulista e vira na Brigadeiro, etc.

Esse motorista gostava de papo. “Essa hora é perigoso, todos estão dirigindo bêbados, mas vocês são moças de família, logo se vê ...”(não sei se encarava como elogio ou não essa colocação).

Tudo correndo bem até que...boom! Bateram no carro. Bater num motorista de táxi as 3 da madrugada é pedir pra apanhar. Ele saltou e foi tomar satisfação com o peito estufado. O outro motorista era um cara bêbado. Com a namorada, que com jeitinho de moça de família resolveu tudo sem motivo pra socos e tapas.

Todos devidamente com telefones para resolver consertos de carro (na verdade só reparos leves) seguimos pro hotel.

- Obrigada.
- Obrigado e boa noite. Dá gosto de guiar moças tão finas.
- Obrigada! (em coro).

Subimos.
-Quer beber mais alguma coisa?
-Não. Quero dormir e não sonhar com táxis.