terça-feira, 9 de setembro de 2008

Neste muro o que procuro?

A liberdade de expressão é tão forte que quando essa vontade de falar vem, parece impossível, pelo menos pra quem é impulsivo, falar tudo o que vem à cabeça.

Isso acontece com o Presidente, que fala sem discurso pré-estabelecido (daí sai um monte de bobagem), dos programas ao vivo (onde invariavelmente escapa um erro, uma tosse, um silêncio vergonhoso), ou até aqueles que com um spray na mão, tendo o muro como papel e a cidade como leitora, se expressam sem medo.

Um desses rasgos de expressão está em um muro da cidade pelo qual passo todo dia. E ainda acho engraçado como o autor da “obra” teve a capacidade de revelar seu ódio e amor, assim, um logo após o outro. Será que é porque, como dizem, amor e ódio estão mesmo bem próximos?

Em baixo de um viaduto, sob a luz laranja-vitamina c-pálida do fim de tarde, estão os dizeres: “Kassab vai se fuder!” seguida de “Ká te amo”.

É estranho achar isso estranho? Será que quando ele se viu com a arma da palavra queria reclamar do governo e aproveitou pra se declarar a namorada? Ou era um romântico underground que aproveitou a declaração de amor para também declarar seu descontentamento político?

Eu já analisei as letras nos rápidos momentos em que o ônibus passa pelo tal muro. São da mesma pessoa. O “K” é revelador, não deixa dúvidas: é o mesmo autor.

Esteticamente é feio. Mas se olhado por outro ângulo o muro é só mais uma faceta de São Paulo. Uma cidade que não deu papel e caneta pra que ele não precisasse pegar num spray. Ou, é uma cidade tão opressora que “desvirtua” quem teve muito papel e caneta, mas preferiu um muro pra gritar que existe. Uma cidade cujo muro não espera resposta, limpeza, sentido.

3 comentários:

Anônimo disse...

Talvez ele (ou ela) ame e odeie o Kassab. A mesma pessoa, o mesmo K.

Grilo disse...

Onde eu morava, um cara deu de presente para a namorada o muro da esquina. Com uma poesia em homenagem a ela, claro. Chamou a garota pra ver, acabou que veio a vizinhança toda. O dono do muro gostou, achou fofo. Já ela...

Anônimo disse...

Quem odeia alguém, dedica sua vida à ela(e).

E isso é tudo que eu tenho a dizer sobre isto.